sábado, 24 de agosto de 2019

Macron acusa Bolsonaro de ter “mentido” sobre o clima e se opõe ao acordo com o Mercosul

A destruição da floresta por desmatamentos e incêndios criminosos 

El País 
Por Silvia Ayuso - Paris / Dublin

Irlanda também ameaça bloquear o tratado se o Brasil não proteger a Amazônia dos incêndios. Alemanha, Canadá e Reino Unido reiteram preocupação com queimadas

O embate entre o Brasil e a França sobre os incêndios devastadores na Amazônia endureceu. Horas depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciar sua intenção de incluir esta “crise internacional” na cúpula do G7 que ele organiza neste fim de semana em Biarritz, o Governo francês deu um passo além e agora ameaça bloquear o acordo da União Europeia com o Mercosul por causa das "mentiras" do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em matéria de compromisso com o meio ambiente. O presidente brasileiro, que se reuniu com ministros nesta sexta-feira para tratar sobre como o Governo reagirá às queimadas florestais, disse pela manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada, que a “tendência” é enviar militares para ajudar no combate aos incêndios na região da Amazônia.

“Em vista da atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República não tem escolha a não ser constatar que o presidente Bolsonaro mentiu para ele durante a cúpula de Osaka" do G20 em junho, comunicou o Palácio do Eliseu. Para o Governo francês, está claro que "o presidente Bolsonaro decidiu não respeitar seus compromissos com a mudança climática nem agir na questão da biodiversidade". “Nestas condições, a França se opõe ao acordo com o Mercosul", conclui a breve, mas contundente mensagem francesa sobre o tratado de livre comércio assinado entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) em junho, depois de duas décadas de negociações.

A decisão da França é uma resposta taxativa a Bolsonaro, que nesta quinta-feira disse que, com a intenção de incluir os incêndios na Amazônia na agenda do G7, Macron quer "instrumentalizar" uma questão interna brasileira para "obter créditos políticos pessoais" e qualificou essa atitude de "colonialista". Também acusou países que dão dinheiro para a preservação da floresta de "interferir na soberania do Brasil".

No entanto, nesta questão, Macron não está sozinho. A chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, está "convencida" de que os incêndios na Amazônia "precisam estar na agenda do G7" porque, como Macron disse nesta quinta-feira ao falar sobre "crise internacional", a Alemanha considera que a amplitude da catástrofe é "assustadora e ameaçadora não só para o Brasil e os demais países envolvidos, mas o mundo inteiro", disse o porta-voz da chefe do Governo, Steffen Seibert, em Berlim, nesta sexta-feira. Na quinta-feira, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também endossou o discurso do colega francês e disse que "não poderia concordar mais" com a preocupação de Macron. Nesta sexta-feira, o premiê britânico, Boris Johnson, também disse estar “profundamente preocupado” com as queimadas na Amazônia e defendeu que o assunto seja debatido no G7.

    "I couldn’t agree more, @EmmanuelMacron. We did lots of work to protect the environment at the #G7 last year in Charlevoix, & we need to continue this weekend. We need to #ActForTheAmazon & act for our planet — our kids & grandkids are counting on us." https://t.co/KwaR8Eevq5
    — Justin Trudeau (@JustinTrudeau) August 23, 2019

A Irlanda também está disposta a bloquear o acordo entre a União Europeia com o Mercosul se o Brasil não mudar de atitude, alertou seu primeiro ministro, Leo Varadkar. O chefe do Governo irlandês também criticou o presidente brasileiro por suas acusações na quarta-feira, nas quais afirmou que as ONGs que lutam pela proteção do meio ambiente são as responsáveis pelos incêndios. Varadkar considerou estas acusações orwellianas, segundo o jornal The Irish Independent. O Executivo irlandês está passando por um momento de grande pressão dos produtores de carne bovina, que temem que o acordo com o Mercosul –associação que agrupa Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai– os prejudique por causa da chegada ao país de produtos sul-americanos mais baratos.

Até agora, o Governo irlandês vinha mantendo a intenção de revisar o acordo ponto por ponto antes de decidir ratificá-lo ou não. Mas desde que os dados do aumento notável de incêndios na floresta amazônica foram revelados – de 83% a mais até agora este ano, em comparação com o mesmo período de 2018– e as acusações de Bolsonaro às ONGs, Varadkar afirmou que "não há como a Irlanda apoiar um tratado de livre comércio se o Brasil não cumprir suas obrigações com o meio ambiente”. Anteriormente, a França também ameaçara vetar o pacto comercial se o Brasil decidisse abandonar o acordo de Paris de combate às mudanças climáticas. A França nomeou uma comissão de especialistas independentes que deve apresentar um relatório ao Governo sobre várias questões do pacto, incluindo seus efeitos sobre os gases do efeito estufa, desmatamento e biodiversidade, conforme anunciou no mês passado.

    "The fires ravaging the Amazon rainforest are not only heartbreaking, they are an international crisis. We stand ready to provide whatever help we can to bring them under control and help protect one of Earth’s greatest wonders."
    — Boris Johnson (@BorisJohnson) August 23, 2019

O Comissariado de Comércio da UE calcula que o tratado não entrará em vigor antes de dois anos, durante os quais o Executivo irlandês pretende monitorar as ações ambientais do Brasil. O primeiro-ministro argumentou que os agricultores europeus não podem ser obrigados a seguir uma série de normas rígidas, como a redução de pesticidas e fertilizantes, "se não chegarmos a um firme acordo com medidas aceitáveis em termos de trabalho, meio ambiente e qualidade do produto". O acordo "faz isso", mas precisa ser monitorado de perto, acrescentou Vadkar.

A Comissão Europeia informou nesta sexta-feira que está preparada para prestar assistência às autoridades brasileiras e bolivianas na luta contra os incêndios florestais que afetam múltiplas áreas da Amazônia, com os quais se declarou "profundamente preocupada". "Estamos em contato com as autoridades brasileiras e bolivianas e estamos prontos para ajudar de qualquer maneira que pudermos, seja enviando assistência ou ativando o sistema de satélites Copernicus", disse a porta-voz da comunidade, Mina Andreeva, na coletiva de imprensa diária da instituição.

A verdade é que os incêndios no Brasil não são os únicos que estão devastando o subcontinente americano. Bolívia e Paraguai concordaram nesta quinta-feira em unir esforços para combater o gigantesco incêndio florestal que se alastra por ambos os territórios e está devastando a flora e a fauna. A superfície afetada no departamento boliviano de Santa Cruz (leste do país) já chega a 654 mil hectares, enquanto no Paraguai os focos ígneos, na fronteira com a Bolívia, ainda não foram quantificados.

Países vizinhos oferecem ajuda ao Brasil

Os Governos do Chile, Venezuela e Argentina ofereceram ajuda ao Brasil para mitigar os incêndios que afetam a Amazônia e devastaram milhares de hectares. O ministro da Agricultura chileno, Antonio Walker, informou que entrou em contato com a titular do mesmo cargo no Brasil, Tereza Cristina Dias, para oferecer "toda a nossa ajuda para enfrentar o grave incêndio na Amazônia".

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, também anunciou que pôs à disposição do Brasil e Bolívia o sistema de emergências de seu país. "Entrei em contato com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, para acompanhar de perto a gestão da emergência. Estamos comprometidos a ajudar nossos vizinhos a combater os incêndios florestais", disse em sua conta na rede social Twitter.

O Governo venezuelano expressou preocupação com os incêndios no "pulmão vegetal da Terra", fez um chamado à "consciência" e ofereceu "ajuda imediata para mitigar esta dolorosa tragédia".

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