domingo, 7 de junho de 2020

Colin Powell, ex-secretário de Estado dos EUA, diz que vai votar em Joe Biden e que Donald Trump não respeita a Constituição

O ex-secretário de Estado dos Estados Unidos Colin Powell, que atuou durante o governo George W. Bush, em imagem de 3 de setembro de 2014 — Foto: Jim Watson/AFP 

  
Por France Presse

Powell, que serviu como principal oficial militar e diplomata do país em governos republicanos, falou em entrevista à CNN. Ele classificou Trump como um perigo para a democracia e citou que as mentiras e insultos afetaram imagem do país para o mundo.

Colin Powell, que serviu como principal oficial militar e diplomata dos Estados Unidos em presidências republicanas, disse neste domingo (7) que votará no democrata Joe Biden, e que Donald Trump não segue a Constituição americana.

OUTRAS NOTÍCIAS:

"Temos uma Constituição. Temos e segui-la. E o presidente se afastou", disse Powell ao canal de notícias da CNN. Ele foi secretário de Estado do presidente George W. Bush. 

Em sua acusação, Powell classificou Trump como um perigo para a democracia e citou que as mentiras e insultos afetaram a imagem da América para o mundo.

Powell, ex-presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, foi o mais recente de uma série de altos oficiais militares aposentados a criticar publicamente o tratamento de Trump aos massivos protestos antirracismo que agitam os Estados Unidos desde o assassinato de George Floyd, um homem negro desarmado sufocado durante sua prisão por um policial branco em Minneapolis, Minnesota.

Aparentemente, um ponto de virada foi alcançado na semana passada entre oficiais aposentados, geralmente relutantes em fazer declarações, quando Trump ameaçou usar militares para reprimir os protestos, provocando um confronto com o chefe do Pentágono.

"Estamos em um ponto de virada", disse Powell, criticando os senadores republicanos por não enfrentarem Trump.

"Ele mente sobre as coisas. E se safa porque as pessoas não o responsabilizam", disse ele.

Powell, que também atuou como secretário de Estado durante o governo George W. Bush (2001-2009), também repreendeu Trump por ofender "quase todos no mundo".

"Estamos contra a Otan. Estamos retirando mais tropas da Alemanha. Eliminamos nossas contribuições para a Organização Mundial da Saúde. Não estamos felizes com as Nações Unidas", afirmou.

E com a proximidade das eleições presidenciais de novembro, Powell fez um anúncio contundente: não votará em Trump, a quem também não apoiou em 2016. E apoiará o democrata Joe Biden.
"Sou muito alinhado a Joe Biden nas questões sociais e políticas. Trabalhei com ele por 35, 40 anos. E agora ele é o candidato e vou votar nele", afirmou.

CANAL

Recado: 'Manipulação de estatísticas é manobra de regimes totalitários', diz Gilmar Mendes sobre dados do coronavírus

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal — Foto: Nelson Jr./SCO/STF

Por G1

O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes criticou neste sábado (6) a mudança feita pelo governo federal na divulgação de dados referentes ao coronavírus e disse que a "manipulação de estatísticas é manobra de regimes totalitários".

"A manipulação de estatísticas é manobra de regimes totalitários. Tenta-se ocultar os números da #COVID19 para reduzir o controle social das políticas de saúde", escreveu o ministro em uma rede social. "O truque não vai isentar a responsabilidade pelo eventual genocídio. #CensuraNao #DitaduraNuncaMais", finalizou o ministro 

Nesta semana, o boletim do Ministério da Saúde com o balanço da doença passou a ser publicado no fim da noite e com menos informação que antes. O portal oficial do ministério ficou fora do ar e, ao ser restabelecido, também deixou de informar os dados acumulados da pandemia.

Mais cedo, Gilmar Mendes foi moderador de um debate promovido pelo IDP e que teve a participação do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, demitido por Jair Bolsonaro em abril deste ano. No encontro, Mandetta disse que o desmanche de informação é uma tragédia para o país.

"Do ponto de vista de saúde, é muito ruim, é uma tragédia o que a gente está vendo, de desmanche da informação", disse Mandetta.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Roberto Jefferson: Moro foi horroroso e esfaqueou Bolsonaro pelas costas


Ao acusar Jair Bolsonaro de tentar intervir na Polícia Federal, o ex-ministro Sergio Moro (Justiça) fez "papel horroroso" e esfaqueou o presidente pelas costas, segundo o ex-deputado federal, Roberto Jefferson. Ele ainda criticou o ex-juiz federal por vazar conversas com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) ao Jornal Nacional na última sexta-feira (24).

"Para mim, o melhor tuíte do dia da demissão [de Moro] foi feito pelo [jornalista] Alexandre Garcia. 'Tenho a alegria de saber que Adélio esfaqueou o presidente no peito, diferentemente de Moro, que o esfaqueou pelas costas'", citou o presidente do PTB em conversa com o colunista do UOL, Tales Faria.

Jefferson disse também que a troca de mensagens entre Moro e Zambelli "não é prova de nada", e seu vazamento é "ilegal". "Ele vaza uma conversa com a deputada Carla Zabelli assim como vazou uma conversa entre [os ex-presidentes] Dilma e Lula. Ele está habituado a vazar conversas. Que papel horroroso o do Moro", criticou.

Por conta das declarações que deu quando pediu demissão, segundo o ex-deputado, Moro "não arruma emprego em lugar nenhum" —ainda que deva se candidatar à Presidência em 2022.

"Se me perguntarem se eu daria um emprego a ele como auxiliar de escritório", exemplificou, "eu não daria. Ele não vai arrumar emprego em lugar nenhum. A biografia conta a história dos defeitos da pessoa. Mas creio que ele será candidato", acrescentou.

Moro é 'traidor', não 'delator'

Roberto Jefferson ainda chamou o ex-ministro da Justiça de traidor e o comparou a Macunaíma, personagem do livro de mesmo nome publicado por Mário de Andrade. Chamado de "herói sem nenhum caráter", Macunaíma é considerado um estereótipo negativo do "brasileiro médio".

"Moro não é delator porque não tem crime cometido pelo presidente para ele dividir [com a sociedade]. Não é delator, é um traidor, um 'quinta coluna'. É um Macunaíma, nosso herói sem caráter", alfinetou.

domingo, 29 de setembro de 2019

Deputado que chamou Moro de "juiz ladrão" reafirma acusação contra ministro

Glauber Braga chamou Moro de juiz ladrão em julho

Chico Alves
Colaboração para o UOL, no Rio

Resumo da notícia 

Glauber Braga chamou Moro de ladrão em julho 

Conselho de Ética abriu processo contra o deputado 

Parlamentar reafirma que ex-juiz cometeu crimes 

Deputado diz acreditar que processo será arquivado


O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) estava a poucos metros do ministro Sergio Moro, quando disse a ele no início de julho: "O senhor vai estar nos livros de história como um juiz que se corrompeu, como um juiz ladrão!" O parlamentar referia-se à atuação do ex-magistrado como julgador dos réus da operação Lava Jato, bastante questionada após a revelação pelo site The Intercept Brasil dos vazamentos de conversas com procuradores da força-tarefa de Curitiba.

Ao ataque do deputado, seguiu-se uma confusão na sala de audiência da Câmara, enquanto Moro deixava o recinto cercado por apoiadores. No dia seguinte, Braga foi ameaçado pela líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), de ter seu nome encaminhado ao Conselho de Ética da Casa com pedido de cassação do mandato por quebra de decoro.

Sessão com Guedes é encerrada após discussão com Glauber Braga

Demorou, mas o conselho notificou o deputado do PSOL há uma semana. Nesta entrevista ao UOL, Braga diz que se o processo não for arquivado ele terá uma boa oportunidade de reafirmar o que disse. Mais: afirma que a frase não foi apenas uma analogia. "Estou acusando ele [Moro] de ter cometido crimes", diz o parlamentar.

A principal ilegalidade, argumenta Braga, é a de ter atuado em um processo sem a imparcialidade necessária, para depois conseguir a recompensa de ser indicado a um ministério no governo Jair Bolsonaro. O parlamentar diz acreditar na manutenção do mandato e não se intimida com a ameaça de cassação. "Vou defender o mandato porque é questão de Justiça, mas não vou vender a alma a ninguém por conta disso."

UOL - Como vê a abertura de processo no Conselho de Ética?

Glauber Braga - Recebo com a certeza de que ele tem que ser arquivado. Não retiro uma palavra do que eu disse na Comissão de Constituição e Justiça, de que Moro é um juiz ladrão. Estou apresentando a minha certeza baseada em duas teses jurídicas. A primeira é a da imunidade parlamentar. A segunda, se eles não arquivarem, é a exceção da verdade, pois quem fala a verdade não merece castigo. Se necessário for, se houver continuidade nesse processo, eu vou pedir a utilização de todos os meios de provas disponíveis, inclusive a chamada das oito testemunhas a que tenho direito no Conselho de Ética. Já pedi ao presidente do conselho que prepare equipamentos e tecnologia para quem por ventura esteja fora do Brasil e possa vir a dar depoimento também como testemunha. Pode ser que tenhamos testemunhas que não estão no Brasil.

O senhor imaginava que esse processo fosse realmente aberto?

Eles anunciaram no mesmo dia ou no dia seguinte essa possibilidade. A líder do governo no Congresso inclusive disse que faria isso, já imaginava que poderia acontecer por causa das práticas intimidatórias do governo. Pensavam que isso poderia intimidar uma fala mais contundente em relação ao governo.

O senhor acusa Moro ter conduta criminosa ou fez uma analogia com o árbitro de futebol?

Estou acusando ele de ter cometido crimes. Entre os quais a utilização do cargo de juiz para receber benefício pessoal.

A minha analogia tem a ver, sim, com o juiz de futebol que está no estádio e toma partido de uma das equipes. Essa analogia foi clara.

Agora, acuso ele também de ter recebido recompensa para ter sido um juiz parcial. No caso de um juiz que fica de um dos lados e depois recebe uma recompensa, o nome desse crime é corrupção.

Se refere ao caso do julgamento do ex-presidente Lula?

Exatamente. A recompensa foi o Ministério da Justiça.

Quais foram os crimes que o senhor identifica na conduta do ex-juiz Moro?

Com as mensagens que já foram divulgadas pelo The Intercept e com aquilo que a gente vai ter como comprovar no conselho, vamos mostrar o conjunto de tipos penais onde a conduta do Sergio Moro pode estar inserida. Mais importante para mim que uma correlação com a conduta penal é a demonstração política da representação daquilo que ele fez. A mensagem de um juiz ladrão é a do juiz parcial, que tomou parte. Alguém pode perguntar: um magistrado que se comporta parcialmente em um processo e recebe uma recompensa está cometendo crimes? Sim, inclusive o crime de corrupção. Mas podemos falar da associação com agentes públicos para o cometimento de crimes. Tudo isso pode ser inserido no momento em que as provas forem encaminhadas para o Conselho de Ética.

O senhor pretende usar o material publicado pelo site The Intercept, com vazamentos de conversas entre o ex-juiz e procuradores da Lava Jato?

O que temos de jurisprudência dá demonstração de que a prova conseguida por meio ilícito pode ser utilizada para absolvição de condenações que foram feitas a partir de uma fraude. Mas, ao mesmo tempo, os próprios tribunais superiores ainda são reticentes em fazer uma condenação de agentes a partir de provas que foram alcançadas por meio ilícito. Não é novidade para ninguém que uma gravação telefônica não autorizada não é lícita. Mas o questionamento é: a partir do momento que o STF tomou a decisão de que essas provas não poderiam ser descartadas, isso dá viabilidade de que essas provas sejam usadas de alguma maneira? Como elas serão utilizadas os julgamentos futuros do próprio Supremo Tribunal Federal é que vão poder dizer. A gente não tem ainda um fechamento de questão sobre a forma de utilização das provas, especialmente dos diálogos que foram divulgados pelo Intercept.

O ministro Moro e o procurador Deltan Dallagnol não reconheceram a autenticidade de todas conversas.

Sabem que tiveram esse tipo de diálogo, e por isso estão já se defendendo juridicamente dizendo que as provas não são válidas. É por esse motivo que não reconhecem o teor das conversas. Mas eles sabem o que fizeram, sabem que os diálogos aconteceram. Por isso, fazem admissão seletiva em relação ao teor das conversas. É uma tática de defesa deles.


Em abril de 2016, Glauber Braga chamou o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de gangster e afirmou que a cadeira do emedebista cheirava a enxofre Imagem: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados

Como avalia o teor dos vazamentos?

Gravíssimo. Você tem um ministro da Justiça, até então juiz de direito, que se utilizou das suas prerrogativas e do seu aparato para ferir a democracia brasileira e facilitar a implementação do programa. Isso não é uma brincadeira. É um ataque brutal às instituições e à vontade popular, à soberania popular. É de uma gravidade sem precedentes na história do Brasil.

O senhor disse que foi ameaçado depois de chamar Moro de juiz ladrão. Pensou em amenizar as críticas?

Grupos de extrema-direita espalharam meu telefone pelo Brasil inteiro, nos grupos deles, então todo dia teve ameaças, invadiram meu celular... Mas não estou muito preocupado com isso. Vamos em frente.

Algumas pessoas reclamaram nas redes sociais que o senhor foi muito agressivo.

A agressividade vem de quem fere a democracia brasileira, de quem usa como presidente da República o tempo inteiro o seu espaço institucional para estimular violência e a eliminação física de seus adversários políticos. O que eu usei foi contundência, que eu repetiria e repetirei quantas vezes a gente tiver um caso da gravidade do que aconteceu com Sergio Moro.

Para fazer o enfrentamento contra esse tipo de comportamento, que fecha o regime, que utiliza dos seus aparatos, como fez Moro de maneira ilegal, eu não posso ter meias palavras. Como diria Leonel Brizola, eu não posso costear o alambrado. O enfrentamento e a fala têm que ser diretas. O fascismo não se enfrenta com meias palavras, e sim com a colocação das cartas na mesa. Porque eles vêm com muita agressividade. Se a gente não se defende e não reage com contundência, é como se a gente estivesse dando um estímulo a esse comportamento, que o tempo inteiro está sendo tocado por Jair Bolsonaro.

E não nos enganemos: Sergio Moro é parte fundamental dessa estrutura de sustentação da política que está sendo tocada por Bolsonaro.

Não vai ter falas minhas agressivas com parlamentares. Faço embate político pegando as figuras públicas, a representação de Bolsonaro, Guedes, Moro e companhia. Faço embate frontal com as figuras políticas que dão sustentação ao governo Bolsonaro? Sim, faço. Essa é uma das características do mandato.

Acha que é possível tirar o ingrediente de agressividade do debate político atual no Brasil?

Espero que o presidente da República faça isso, que volte atrás nas posições que ele tem adotado. Mas não tenho nenhuma ilusão de que essa expectativa se cumpra. Num cenário desse, se ele não deixar de fazer isso, não espere que o passo atrás venha do nosso lado. Se ele vier quente de lá, a gente vai estar fervendo do lado de cá.
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O senhor acredita que isso é uma estratégia do presidente?

Sim. Ele quer manter os 30% [de aprovação] na agenda bolsonarista mais dura. Com isso, vai estimulando o tempo inteiro a construção de um exército de militantes de extrema-direita. Esse jogo, na nossa opinião, é combinado. Olavo de Carvalho está fazendo agora um curso gratuito para 80 mil policiais. Então, eles estão procurando formar uma base que dê sustentação por fora do Congresso para facilitar as tentativas de fechamento de regime. Deixam o Maia como principal interlocutor da agenda Guedes com o mercado. É um movimento que não é descasado, tem também uma capacidade de articulação. A gente tem que combater tanto a agenda bolsonarista, de fechamento de regime, de práticas políticas atrasadas e eliminação do adversários, quanto o que representa Maia na sua relação com o mercado para a implementação da agenda de desmonte do Estado nas suas garantias sociais, com reformas, privatizações e tudo o mais.

O senhor teme perder o mandato?

Acho que se eles tiverem um mínimo de responsabilidade a representação vai ser arquivada. Mas não vou fugir, me intimidar e nem tirar uma palavra do que eu disse. Se eles quiserem passar por cima de toda a razoabilidade e as garantias constitucionais para colocarem isso como um fato, vou na lógica de Geraldo Vandré, no Festival da Música de 1968: a vida não se resume a festivais. Ou seja, vou defender o mandato porque é questão de Justiça, mas não vou vender a alma a ninguém por conta disso. Continuarei fazendo a luta política como eu acredito que tem que ser feita.

A audiência realizada na Câmara na última quarta-feira foi interrompida quando o senhor perguntou ao ministro Paulo Guedes sobre ganhos bilionários no setor de educação que ele teria conseguido antes de assumir a pasta da Economia. Foi uma provocação?

Fiz perguntas que tinham que ser feitas. Se tem um ministro da Economia que está diminuindo R$ 8 bilhões da educação pública no Orçamento do ano que vem, num ano que já não conseguiu fechar as contas nessa área com os cortes que são conhecidos por todos, é fundamental o questionamento sobre as relações dele com o setor privado de educação e até que ponto isso é uma política de governo. O próprio Guedes falou sobre a captura que às vezes se verifica nos espaços públicos pelos interesses privados. Nessa linha, meu questionamento foi: há uma captura do interesse público na agenda que está sendo tocada pelo governo para beneficiar o setor privado de educação? Não adianta ele se irritar. Isso é uma pergunta que tem que ser respondida pelo ministro. Apenas afirmei fatos que já são públicos e foram publicados pela imprensa.

A irritação de Guedes o surpreendeu?

Ele estava na comissão com parlamentares que até então batiam palmas, elogiavam e sorriam. Quando um deputado questionou frontalmente a sua atuação e perguntou sobre as suas relações na política que está sendo tocada pelo ministério, ele reagiu para não responder. Tem perguntas que são incômodas, mas deveriam ser respondidas por qualquer agente público. Mas ele simplesmente não quis fazê-lo. Preferiu a irritação a responder objetivamente às perguntas feitas.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Nomeação de Lula à Casa Civil teria evitado impeachment de Dilma, diz Temer

Temer no programa Roda Viva

Uol São Paulo
Por Josias de Souza

Dilma Rousseff teria concluído o seu segundo mandato presidencial se o Supremo Tribunal Federal não tivesse barrado a posse de Lula na chefia da Casa Civil. Foi o que disse o ex-presidente Michel Temer em entrevista ao programa Roda Viva, na noite desta segunda-feira (16). "Se ele fosse chefe da Casa Civil, é muito provável —ele tinha bom contato com o Congresso Nacional— que não se conseguiria fazer o impeachment. Disso não tenho dúvida".

Com sua avaliação, Temer realçou indiretamente o papel de dois protagonistas da deposição de Dilma: Sergio Moro e Gilmar Mendes. Como juiz da Lava Jato, Moro levantou em março de 2016 o sigilo do célebre grampo em que Dilma avisa a Lula que o "Bessias" estava a caminho, levando o ato de sua nomeação para o ministério. Coube a Gilmar, na pele de ministro do Supremo Tribunal Federal, expedir a liminar que sustou a posse de Lula. Seis meses depois, Dilma foi deposta.

A divulgação do áudio da fatídica conversa desceu ao verbete da enciclopédia como uma transgressão de Moro. O então juiz já havia ordenado à Polícia Federal a suspensão da escuta. O diálogo soou antes que a ordem fosse executada. Nele, Dilma disse a Lula que o ato de nomeação deveria ser usado em caso de necessidade. Ficou subentendido que o documento serviria como um salvo-conduto para evitar a prisão de Lula, que passaria a dispor do foro privilegiado do Supremo.

Temer lembrou que Moro foi censurado na época pelo então relator da Lava Jato no Supremo, ministro Teori Zavascki, morto num acidente aéreo. Pediu "escusas" à Suprema Corte. Alegou que não tivera a intenção de causar "polêmicas e constrangimentos desnecessários". Hoje, sabe-se que essa desculpa é falsa. O vazamento de mensagens trocadas entre Moro e procuradores revela que a intenção era mesmo a de jogar a conversa no ventilador para evitar que Lula se escondesse atrás do escudo do foro privilegiado.

A despeito da dúvida quanto à legalidade dos procedimentos de Moro, Gilmar Mendes não hesitou em barrar a posse de Lula. Valeu-se de um raciocínio ardiloso. Sustentou que o grampo tornara-se secundário depois que Dilma e Lula reconheceram em manifestações públicas a autenticidade do diálogo. Durante a gestão de Temer, Gilmar consolidou-se como um conselheiro do presidente. Hoje, é um crítico da heterodoxia judicial da Lava Jato e adepto da política de celas abertas.

Temer avalia que a conversão de Lula em ministro era mesmo uma manobra: "Tudo indicava que o chamamento do ex-presidente Lula para a Casa Civil não tinha exatamente a finalidade de nomeá-lo para a Casa Civil, mas, eventualmente, impedir que houvesse algum embaraço de natureza judicial em relação a ele." Com atraso de mais de três anos, tachou de "equívoco muito grande" a divulgação ordenada por Moro.

"Se divulgou um telefonema, dever-se-ia liberar por inteiro", afirmou Temer, referindo-se a duas dezenas de conversas telefônicas que Lula mantivera após a suspensão do grampo. Dialogara com o próprio Temer. Dizia estar impressionado com a manifestação que arrastara dias antes 3,6 milhões de pessoas às ruas, para apoiar a Lava Jato e protestar contra o governo Dilma. Buscava uma aliança com parceiros de infortúnio, pois a Lava Jato cercava também o MDB de Temer.

"Ele estava preocupado com o impeachment", relatou Temer na entrevista. "Depois, ele esteve comigo, conversando sobre o impedimento. Pedia que eu colaborasse com o PMDB. Afinal, a derrubada da ex-presidente não seria útil para o país. O fundamento básico dele foi tentar trazer o MDB e outros a quem eu pudesse influenciar no sentido de negar a possibilidade do impedimento."

Perguntou-se a Temer se estava disposto a socorrer Dilma na ocasião em que Lula o procurou. E ele: "Quando o presidente da Câmara era o Eduardo Cunha eu trabalhei muito. […] Houve um dia em que eu fui à Presidência da República e disse: 'presidente, eu acho que o Eduardo Cunha não vai propor nenhum pedido de impeachment".

Havia nas gavetas de Cunha duas dezenas de pedidos de afastamento de Dilma. "Dois são complicadíssimos", disse Temer à então presidente. "Mas ele não vai pedir, deve arquivar todos. Ela disse: 'Que coisa boa, Temer'. Chamou um ministro que estava ao nosso lado e disse: 'Olha o que o Temer está dizendo!'. Ou seja, na verdade eu jamais imaginei que chegaria à Presidência, sobretudo por essa via". O repórter ironizou: O senhor nunca conspirou nem um pouquinho? "Não".

Instado a avaliar a gestão de Jair Bolsonaro, Temer referiu-se ao capitão como um continuador de sua obra: "O governo Bolsonaro tem um ponto positivo. Esse ponto positivo, modéstia de lado, é porque ele está dando sequência a tudo aquilo que eu fiz".

CANAL

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Justiça de SP rejeita denúncia contra Lula, Frei Chico e executivos da Odebrecht por corrupção

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em imagem de dezembro de 2017 — Foto: Hélvio Romero/Estadão Conteúdo

Por G1 SP — São Paulo

Para o juiz federal Ali Mazloum, os fatos da denúncia não possuem todos os elementos legais exigidos para a configuração do delito.

A 7ª Vara Federal Criminal em São Paulo-SP rejeitou nesta segunda-feira (16) denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) por meio da Força Tarefa da Lava Jato em São Paulo contra o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu irmão, José Ferreira da Silva, o Frei Chico. Eles foram acusados de corrupção passiva na segunda-feira (9).

A denúncia também foi rejeitada em relação a outros três executivos da Odebrecht, por suposta prática de corrupção ativa. São eles o delator e ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar, Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, e Emilio Odebrecht.

Para o juiz federal Ali Mazloum, os fatos da denúncia não possuem todos os elementos legais exigidos para a configuração do delito, não havendo pressuposto processual e nem justa causa para a abertura da ação penal.

"A denúncia é inepta. Não seria preciso ter aguçado senso de justiça, bastando de um pouco de bom senso para perceber que a acusação está lastreada em interpretações e um amontoado de suposições", diz a decisão do juiz Ali Mazloum.

"Nada, absolutamente nada existe nos autos no sentido de que Lula, a partir de outubro de 2002 pós-eleição foi consultado, pediu, acenou, insinuou, ou de qualquer forma anuiu ou teve ciência dos subsequentes pagamentos feitos a seu irmão em forma de “mesada” - a denúncia não descreve nem mesmo alguma conduta humana praticada pelo agente público passível de subsunção ao tipo penal."

Além disso, o juiz afirma que os crimes estariam prescritos porque já se passaram mais de oito anos.

A denúncia

De acordo com a denúncia, Lula sugeriu que a Odebrecht contratasse Frei Chico para intermediar um diálogo entre a construtora e trabalhadores. Ao final do contrato, em 2002, quando Lula elegeu se presidente, Frei Chico teria passado a receber uma mesada para manter uma relação favorável aos interesses da companhia.

Em abril de 2017, o ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar disse em delação premiada que Frei Chico recebeu mesadas da empreiteira por 13 anos. O pagamento era feito em dinheiro vivo.

Na ocasião, Lula afirmou: "Eu nunca dei R$ 1 pro meu irmão Frei Chico, porque ele nunca precisou, nunca pediu pra mim. Olha, se a Odebrecht resolveu dar R$ 5 mil pro meu irmão, é problema da Odebrecht. Por que é que tem que colocar o meu nome nisso?".

Também em 2017, após a delação de Alencar, a defesa de Frei Chico afirmou que ele não havia recebido nenhuma mesada.

Júlio César Fernandes Neves, advogado de defesa do Frei Chico, disse que “é uma aberração essa denúncia contra o Frei Chico, é uma clara perseguição contra o ex-presidente Lula. Frei Chico prestava serviço para a Odebrecht desde o tempo do governo FHC. Nenhuma testemunha de defesa do Frei Chico foi ouvida pelo inquérito da PF até agora. É notória a perseguição ao presidente Lula, agora usando um familiar. O delator mente descaradamente para ser absolvido de outros crimes que cometeu.”

Em nota divulgada na segunda (9), a defesa de Lula diz que a nova denúncia oferece "as mesmas e descabidas acusações já apresentadas em outras ações penais contra o ex-presidente".

"Lula jamais ofereceu ao Grupo Odebrecht qualquer 'pacote de vantagens indevidas', tanto é que a denúncia não descreve e muito menos comprova qualquer ato ilegal praticado pelo ex-presidente", diz o comunicado.

Em nota, o grupo empresarial afirmou: "A Odebrecht tem colaborado com as autoridades de forma permanente e eficaz, em busca do pleno esclarecimento de fatos do passado".

CANAL

domingo, 15 de setembro de 2019

Juiz fez estimativa falha e sem perícia ao condenar Haddad por caixa 2

Fernando Haddad 

Folha de s. Paulo
Por Flávio Ferreira

Avaliação da conta de luz de gráfica usada pelo petista foi a base da sentença da Justiça Eleitoral 

A Justiça Eleitoral condenou o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) pelo crime de caixa dois com base em uma avaliação do consumo de energia elétrica de uma gráfica feita pelo juiz sem perícia técnica. Essa mesma análise teve como resultado uma estimativa equivocada de gastos de eletricidade na impressão de material de campanha.

De acordo com o juiz Francisco Carlos Shintate, autor da sentença, duas gráficas emitiram notas fiscais frias para a campanha vitoriosa de Haddad à Prefeitura de São Paulo em 2012. Para o magistrado, o petista cometeu crime eleitoral ao incluir esses documentos em sua prestação de contas.

Segundo o juiz, ficou provado no processo que Haddad não participou da falsificação das notas fiscais, mas mostrou desinteresse pela verificação da documentação de gráficas fornecedoras e, dessa forma, “assumiu o risco” de que tais papéis frios fossem inseridos nos registros oficiais de sua campanha.

A pena aplicada a Haddad em agosto deste ano foi de quatro anos e seis meses de prisão em regime semiaberto, mas o petista pode recorrer em liberdade ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).

No processo na Justiça Eleitoral, foram examinados os envolvimentos da LWC Editora Gráfica e da Cândido Oliveira Gráfica, apontadas como as emissoras de notas fiscais falsas à campanha de Haddad.

No caso da LWC, o juiz Shintate afirmou, sem parecer técnico, que a gráfica não teve aumento substancial de consumo de energia no período eleitoral de 2012 e isso indicou que a empresa não produziu efetivamente o material de propaganda eleitoral registrado nos documentos fiscais fornecidos para o petista.

A tabela usada pelo juiz como fundamento para a decisão foi incluída na sentença. Com ela, é possível comparar os gastos de energia da gráfica nos meses de agosto e setembro de 2012, bimestre de pico das campanhas, com os dados relativos ao mesmo período do ano anterior, quando não houve eleição.

Assim, em relação a agosto, a elevação foi de 50% na comparação entre os consumos de 2011 e 2012 (46,3 mil kWh e 69,4 mil kWh, respectivamente). Quanto a setembro, o acréscimo foi de 33% (62 mil kWh em 2011 e 82,6 mil kWh em 2012).
Segundo a decisão judicial, esses aumentos na conta de luz não foram significativos, conclusão que foi uma das bases da condenação de Haddad.

Mas três técnicos do setor de gráficas e um de uma fabricante de máquinas ouvidos pela Folha afirmam que o acréscimo de pelo menos 20 mil kWh verificados nesses dois meses seriam suficientes para a produção do material declarado por Haddad.

Segundo levantamento feito pela reportagem nas notas fiscais declaradas pelo petista, a LWC produziu 4,8 milhões de panfletos e 3,7 milhões de cards (propaganda em papel duro, do tamanho de um cartão de visita) em agosto de 2012. No mês seguinte, a produção foi de 300 mil panfletos, 900 mil folhetos e 3 milhões de cards.

A Folha também pediu à defesa de Francisco Carlos de Souza, conhecido como Chicão, dono da gráfica, a relação de equipamentos que a firma usava à época. Com base nesses dados, a reportagem procurou uma das fabricantes das máquinas e solicitou um cálculo do consumo de energia para produção da quantidade de material de campanha que consta nas notas fiscais de Haddad.

Segundo a estimativa da fabricante, que preferiu não ser identificada, a produção de 4,8 milhões de panfletos e 3,7 milhões de cards consumiria ao todo 10,7 mil kWh em 204 horas de trabalho. Já a confecção de 300 mil panfletos, 900 mil folhetos e 3 milhões de cards empregaria 2.800 kWh em 53 horas de trabalho, de acordo com a estimativa.

Assim, para os técnicos ouvidos pela reportagem, a sentença apresenta dois problemas: não houve perícia técnica no processo e houve equívoco no argumento de que o aumento no consumo de energia da gráfica LWC não foi significativo em agosto e setembro de 2012.

Em relação à outra empresa acusada, a Cândido Oliveira Gráfica, a defesa da firma apresentou uma alteração de contrato social e disse que meses antes das eleições ocorreu uma mudança no local de produção de material de campanha, mas essa situação não foi registrada na concessionária de energia.

A gráfica juntou aos autos uma conta de energia de seu novo endereço, que ainda estava em nome de outra empresa, do mês de setembro de 2012, período de campanha, com consumo de 55 mil kWh. O magistrado, porém, entendeu que tais documentos não serviram para comprovar que a gráfica prestou os serviços descritos nas notas que emitiu para Haddad.

Na decisão judicial, o juiz ainda argumentou que um levantamento da Polícia Federal mostrou que a empresa tinha seis funcionários à época da eleição, e tal número seria insuficiente para produzir o material. Mas, a exemplo da avaliação sobre o consumo de energia elétrica, não usou nenhuma perícia específica e teve por base apenas dados levantados pela PF.

Uma outra justificativa apresentada pelo juiz foi a de que as gráficas não utilizaram insumos suficientes para a realização dos trabalhos, novamente sem um laudo sobre o tema.

O gasto total da campanha de Haddad em 2012 foi de R$ 68 milhões (R$ 99,3 milhões, em valores atualizados pelo IPCA). As despesas declaradas com as gráficas foram de R$ 607 mil (R$ 890 mil, com a correção monetária).

De acordo com o magistrado, em interrogatório, Haddad disse que não se preocupava em controlar diretamente as despesas de campanha e delegava tal atividade a Francisco Macena, o tesoureiro responsável pelas contas do petista. Para o juiz, foi essa postura de Haddad que permitiu a responsabilização dele no caso.

“Ao se desinteressar do controle das despesas e não conferir as notas fiscais e respectivos recibos, criou o risco não permitido de falsidade ideológica para fins eleitorais, com o uso de notas fiscais falsas na prestação de contas, o que veio a se concretizar, sabido que tem havido grande incidência de processos por caixa dois eleitoral, em razão de doações não contabilizadas e de despesas inexistentes lançadas”, sentenciou o magistrado.

O advogado e professor Flávio Luiz Yarshell, titular da Faculdade de Direito da USP, que foi juiz eleitoral do TRE paulista de 2007 a 2012, preferiu não analisar o caso específico de Haddad, mas afirmou que, nesse tipo de delito, “o dever de acompanhar pessoalmente os gastos de campanha não chega ao ponto de impor ao candidato o ônus de controlar aspectos relativos à forma e à capacidade de trabalho dos prestadores de serviço de que se vale”.

“A falsidade praticada pelo prestador de serviços, em princípio, não se estende ao tomador”, completou.

O advogado e ex-ministro do STF Carlos Velloso, que já presidiu o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disse que o tema da condenação de réus que assumiram o risco de cometer crimes, por meio de ações ou omissões, é cercado de controvérsias na comunidade jurídica. “É preciso que haja algum indício ou prova de que o indivíduo não se importou com as consequências de sua conduta”, afirmou Velloso.

O juiz Shintate entendeu que o fato de a prestação de contas de Haddad trazer essas notas levou à configuração do crime que, no jargão técnico, é denominado falsidade ideológica para fins eleitorais, previsto no artigo 350 do Código Eleitoral. Esse foi o delito expressamente mencionado no pedido de condenação que consta na denúncia oferecida pelo Ministério Público em maio de 2018.

O magistrado absolveu Haddad quanto à prática de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, improbidade e quadrilha. Para tratar desses outros delitos, invocou decisões recentes do STF que autorizam juízes eleitorais a apreciarem crimes comuns conexos às condutas delituosas de natureza eleitoral.

Apesar de a denúncia somente ter requerido a punição de Haddad pelo crime de falsidade ideológica para fins eleitorais, a peça acusatória descreveu outras situações, como o suposto repasse de dinheiro oriundo do esquema de corrupção na Petrobras, investigado na Operação Lava Jato, para pagar dívidas de campanha do ex-prefeito.

Com base nesse relato da denúncia e nas decisões recentes do STF sobre crimes conexos, o juiz eleitoral absolveu Haddad.

Os donos das gráficas apontadas no processo, Francisco Carlos de Souza e Ronaldo Cândido de Jesus, também foram punidos pelo crime comum de quadrilha, além do delito de falsidade ideológica para fins eleitorais.

Outro lado

A Folha procurou o juiz Francisco Shintate por meio da assessoria de imprensa do TRE, antecipou o teor da reportagem, mas o órgão informou que, “por impedimento legal", o juiz não iria se pronunciar.

A reportagem também procurou o Ministério Público estadual e a Polícia Federal, informou a eles o conteúdo da reportagem, mas nenhum dos órgãos se manifestou.

O criminalista Pierpaolo Bottini, advogado de Haddad, disse que a defesa não apresentou pedido de perícia no processo pois “o ônus da prova é da acusação”.

Bottini informou que recorreu da decisão e que apresentará seus argumentos ao Tribunal Regional Eleitoral.

O advogado de Francisco Souza e Ronaldo Cândido de Jesus, Ismar Marcilio de Freitas Neto, afirmou que não solicitou a produção de laudos na causa porque “tal afirmação —incapacidade produtiva— nunca havia sido objeto do processo”.

“Já foi apresentado o recurso cabível, por meio do qual se confia na reforma da teratológica decisão pelo Tribunal Regional Eleitoral”, afirmou o advogado.

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Governador da BA diz que PT deveria ter apoiado Ciro em 2018 e sigla rebate

Rui Costa e Ciro Gomes

Do UOL, em São Paulo

As críticas feitas pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT), à estratégia do próprio partido nas eleições de 2018 não foram bem recebidas pelo PT. Em entrevista à revista Veja publicada nesta sexta (13), Costa afirmou que, com o impedimento da candidatura de Lula, o partido deveria ter apoiado Ciro Gomes (PDT), porque, segundo ele, Ciro seria a única liderança capaz de vencer o "antipetismo" representado pelo então candidato Jair Bolsonaro (PSL).

Na tarde de hoje (14), a Executiva Nacional do PT divulgou uma nota com 6 tópicos para rebater as declarações do governador baiano. Nela, o PT afirma que tomou uma decisão "absolutamente correta" ao lançar a candidatura do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad em vez de apoiar Ciro Gomes.

O PT também declarou que Haddad só perdeu a eleição por causa de notícias falsas divulgadas pela campanha de Bolsonaro com financiamento ilegal de fontes estrangeiras, contando com a omissão da mídia e da Justiça Eleitoral.

Ciro foi 'grosseiro e desrespeitoso', diz PT

A nota oficial do PT afirma que uma aliança com Ciro Gomes foi descartada porque nunca foi intenção dele constituir uma alternativa no campo da centro-esquerda. O partido diz que essa aproximação está ainda mais distante hoje, "dado que ele [Ciro] escancara opiniões grosseiras e desrespeitosas sobre Lula, o PT e nossas lideranças".

Na reta final do segundo turno das eleições presidenciais, ao discutir com militantes petistas, o senador Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro, gritou uma frase que virou piada entre eleitores de Bolsonaro: "O Lula tá preso, babaca". Ciro repetiu a frase em fevereiro, em bate-boca com membros da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Rui Costa criticou falta de propostas

Para Rui Costa, a falta de propostas foi um dos fatores que levaram à derrota da esquerda nas últimas eleições. Na opinião do governador, o PT precisa abordar melhor questões de segurança pública para ser considerado uma alternativa viável nas próximas eleições.

Ele também afirmou que o partido não pode escolher dialogar apenas com partidos que se comprometam a levantar a bandeira "Lula livre". Em resposta, o PT declarou que a luta pela libertação do ex-presidente é "é central na defesa da democracia, da soberania e dos direitos no Brasil", e que tem trabalhado pela reconstrução da frente de esquerda.

Apoio à Venezuela

Outro ponto de conflito entre os discursos de Rui Costa e de seu partido foi a crise política na Venezuela. O governador considera um exagero chamar de ditadura o regime de Nicolás Maduro, mas disse ver "sinais claros de que a democracia está sendo desrespeitada".

O PT aproveitou a oportunidade para reafirmar que o país vizinho se encontra sob criminoso embargo econômico. O partido ainda criticou o apoio de Bolsonaro ao que considera uma tentativa de intervenção militar estadunidense.

Muito cedo para pensar em 2022

Questionado sobre a possibilidade de ser o candidato à Presidência em 2022, Rui Costa foi evasivo, mas se disse aberto para assumir qualquer função. O PT considerou a declaração "extemporânea" e disse que saberá discutir o assunto no momento adequado.

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segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Senador detona Lava Jato após mensagens sobre Lula e chama operação de 'Lama Jato'


Por Bahia Notícias 

O senador Jaques Wagner (PT) detonou a operação Lava Jato após reportagem do jornal Folha de São Paulo sobre conversas que põem em xeque tese de que ex-presidente Lula Inácio Lula da Silva (PT) agiu para travar investigações.

"Com estas revelações, a operação já merece ser rebatizada: Lama Jato. E os membros da quadrilha, todos processados", afirmou Wagner, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

A reportagem mostra que conversas de Lula gravadas pela Polícia Federal em 2016 e mantidas em sigilo desde então enfraquecem a tese de Sergio Moro para justificar a decisão mais controversa que tomou como juiz da Lava Jato. Na ocasião, ele tornou público um diálogo em que a então presidente Dilma Rousseff (PT) teve com Lula, levando a anulação da posse dele na Casa Civil pelo STF.

Para a Lava Jato, a ligação mostrava que a nomeação visava travar as investigações sobre ele. Mas registros analisados pela Folha e pelo Intercept mostram que outras ligações interceptadas naquela dia, e mantidas em sigilo, punham em xeque a hipótese adotada.

domingo, 8 de setembro de 2019

"Concurso de insultos", diz chanceler da França sobre autoridades brasileiras

Marcelo Camargo / Agência Brasil
Jean-Yves Le Drian é ministro das Relações Exteriores

Por Agência O Globo

IO - O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian , denunciou neste domingo um "concurso de insultos " sobre Brigitte Macron , a mulher do presidente Emmanuel Macron, por parte das autoridades brasileiras. Durante entrevista a uma rádio, o chanceler criticou a maneira como o Brasil vem administrando suas relações internacionais.

— Minha opinião pessoal é que não se administram relações internacionais organizando, qualquer que seja o país, um concurso de insultos. Isso é o que está acontecendo — disse Le Drian em um programa da rádio Europe1.

Na quinta-feira passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se desculpou publicamente por ter dito que a mulher do presidente francês era "feia mesmo".

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro retirou do Facebook, alegando que queria "evitar duplas interpretações", um comentario a um meme que um de seus seguidores comparava a aparência física de Brigitte Macron , na qual ela aparece séria, com uma imagen da primeira dama brasileira, Michele Bolsonaro, sorrindo ao lado do marido no dia da posse presidencial.

"Agora entende porque o Macron ataca o Bolsonaro?", dizia o comentário ao qual o presidente brasileiro respondeu: "Não humilha, cara. Kkkkkkkkkk".

Macron qualificou esse comentário como "extraordinariamente desrespeitoso", mas Bolsonaro negou que se trataria de uma ofensa. "Eu não pus essa foto da sua mulher", alegou o presidente brasileiro.

Os internautas brasileiros inundaram as redes sociais repudiando a atitude de Bolsonaro com a hashtag #DesculpaBrigitte

A França e o Brasil vivem momentos de embate diplomática , após Macron classificar como uma "crise internacional" a proliferação de incêndios na Floresta Amazônica.

Cerca de um mês após a reunião do G20, Bolsonaro cancelou uma reunião de 30 minutos que teria com Jean-Yves Le Drian em Brasília. Segundo o Itamaraty, o encontro teria sido cancelado por "problemas de agenda" do presidente da República , mas, na hora em que a reunião deveria acontecer, Bolsonaro estava cortando o cabelo, o que foi transmitido ao vivo pelas redes sociais presidenciais.

O presidente depois alegou que não se reuniu com o chanceler francês porque Le Drian teve encontros com representantes da oposição e de ONGs brasileiras, em sua maioria hostis à sua política ambiental. Alguns dias depois, Le Drian ironizou a "emergência capilar" do presidente brasileiro, em entrevista ao Journal du Dimanche:

— Todo mundo conhece as restrições que acompanham as agendas dos chefes de Estado . Então, obviamente, houve uma emergência capilar. Essa é uma preocupação que é estranha para mim — declarou Le Drian, em uma referência irônica a sua calvície, em uma entrevista ao Journal du Dimanche.

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